Durante um bate-papo entre três amigos, resolveu-se lançar um desafio: um encontro com outros profissionais de vários ramos e diversos lugares do Brasil. Tiveram alguns encontros virtuais entre os 3, e disso surgiu a ideia do Bate-Papo on line “O que será o novo normal nas organizações?”, como objetivo de promover diálogos construtivos e acessar a inteligência coletiva.
No início do mês abril reuniram-se a distância em torno de 35 profissionais (TI, RH, vendas, imobiliária, construção civil, prestadores de serviço, lojista, atacadista, fábricas de roupas, colchões….).
Foram convidados profissionais conhecidos de vários setores para provocar essa inteligência coletiva e ter um momento de conversa construtiva, tirando do foco as situações muito faladas por todos voltados relacionado à Pandemia. Falou-se sobre o que é esse novo normal, como está o dia a dia das pessoas e das empresas e como podemos melhorar.
Perguntas é que movem o mundo, e por isso lançou-se 3 perguntas para serem discutidas em grupos dentro do ambiente virtual: 1. Como as organizações estão sendo impactadas nesse momento?; 2. Qual será o novo normal nas organizações?; 3. O que as organizações precisam para lidar com o novo normal?. Assim tivemos a oportunidade de entender melhor o que está acontecendo no âmbito emocional, profissional, familiar, financeiro, saúde…. Enfim, o que está acontecendo e o que podemos pensar daqui para frente neste novo movimento, neste novo olhar para todos.
E o resultado desse bate papo foi esse documento (clique aqui)…..
E agora restam mais perguntas diante desses insights: Como manter nossas instituições/organizações saudáveis, buscando alcançar o que eram antes de tudo isso acontecer?
Essa discussão traz algumas reflexões bastante pertinentes para a cadeia produtiva de alimentos e foi essencial contar com alguns profissionais do setor para extrapolar nesse sentido.
Quais serão os novos modelos de produção e negócio? Quais as novas tendências? Quais legados ficarão? E as mudanças? Serão permanentes ou efêmeras?
Apesar de parecer que já vivemos dois anos em três meses com conta da intensidade ainda é muito pouco tempo para leituras e vislumbres profundos. Porém, algumas conclusões podem ser tiradas.
A primeira é que não existirá volta ao normal. Essa crise provocou mudanças profundas não só técnicas, mas comportamentais também, o que faz mudar o nível e/ou viés de exigência. Outro fator é um maior equilíbrio entre eficácia e eficiência. Para entender isso precisamos conceituar e diferenciar ambas.
Eficiência é agir com perfeição na execução de um trabalho, fazer as coisas de forma certa com o menor uso de recursos e tempo possível. Já eficácia envolve a resolução de fato de uma situação, fazer com que as coisas certas sejam feitas. Um homem que cava um poço com perfeição e no tempo certo, realiza um trabalho com eficiência; um homem que sabe o local correto para cavar o poço e achar água, executa um trabalho com eficácia.
Fazendo um paralelo com APPCC é como se eficácia fosse a correção e eficiência as ações corretivas. Muitas vezes, na rotina de produção nos preocupamos e/ou contentamos com a eficácia/correção, esquecemos das ações corretivas e pior – da prevenção. E bem sabemos que, cada vez mais, tão importante quanto ganhar mais é perder menos, este sendo o fiel da balança muitas vezes na sustentabilidade do modelo de negócio.
Nesta pandemia o setor de alimentos vive uma situação bastante heterogênea. Alguns setores, como mercados e açougues, apresentaram incremento no número de clientes, enquanto serviços de alimentação em geral estão em séria crise, buscando se reinventar. Esse cenário pode abrir precedente para investidores pós crise, o que em um primeiro momento é desejável, porém um ponto é essencial – QUALIDADE NÃO É CRITÉRIO, É CULTURA! Não pode ser moeda de troca, mal necessário, custo/prejuízo.
Outro ponto importante é que urge um esforço nacional para combate ao Custo Brasil, que são todos aqueles fatores que tornam nosso processo produtivo menos competitivo e afetam a soberania nacional, de infraestrutura precária a corrupção. O maior inimigo do Brasil é ele mesmo.
Por outro lado, é inegável a democratização e rapidez da informação. Hoje qualquer pessoa discute tratamento para COVID, uso de EPI, estratégias epidemiológicas, entre outros. É essencial usar de forma benéfica esse movimento para educar positivamente o cidadão quanto aos alimentos, desmistificar uma série de “lendas urbanas”. O consumidor cada vez mais interessado na rastreabilidade dos produtos reforça essa necessidade. O seu comportamento de compra mudou, não passa uma embalagem sem ser lavada enquanto há alguns meses ainda valia a regra dos cinco segundos – caiu no chão, pegou antes de cinco segundos está salvo.
Não existirá a volta ao normal pós pandemia, mas sim um novo normal. Será preciso estar atento às demandas do consumidor, seus anseios para que possamos oferecer cada vez mais experiências, não só produtos. Para isso, urge a mudança cultural organizacional brasileira em prol da cultura de segurança de alimentos pois é impossível conseguir resultados diferentes fazendo as mesmas coisas. Será preciso educar o consumidor, não manipular. Ter compromisso com o acerto, não com o erro, não buscar culpados pois todos são responsáveis pelo ônus e bônus. Visar de forma mais clara a relação custo benefício, valoração/valorização das marcas e produtos em detrimento de busca constante por aumento de margem de lucro.
Uma coisa é certa: no mundo pós pandemia não haverá espaço para busca da sustentabilidade através de gestão insustentável!
Esse artigo foi escrito em parceria com:
Luciana Shizue Matsuguma – Graduada em Tecnologia de Alimentos (UTFPR), Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos (UEPG), MBA em gestão de projetos (FGV), estudante de Administração (ANHANGUERA). Experiência em serviços para treinamentos na área de alimentos, docência na faculdade de agronomia e pós-graduação no agronegócio. Há mais de 12 anos atuando na gestão de pessoas e programas/cursos nas áreas de gestão rural e alimentos. Desenvolvimento e atuação de projetos junto ao SEBRAE, Entidades públicas do setor agropecuários no Paraná. Trabalha com os temas de Sucessão Familiar, gestão rural, desenvolvimento de pessoas, tecnologia de alimentos.
Michele Carla Roco Piffer – Formada em Administração, Pós Graduação em Marketing, Pós Graduação em Docência do Ensino Superior, MBA em Gestão Empresarial. Professional & Self Coaching pelo IBC – Instituto Brasileiro de Coaching. Certificações internacionais: Analista Comportamental e Analista 360º. Experiência de mais de 17 anos, com amplo conhecimento nas áreas de Liderança, Desenvolvimento Comportamental e Humano, Comunicação, Empreendedorismo, Administração do Tempo, Administração de Conflitos, com cursos, palestras e treinamentos ministrados no mercado atuante.