Em entrevista, o professor Alfredo Homma propõe como escalar, dentro da região amazônica, os produtos da sua origem e de forma organizada e sustentável.
O Instituto Fórum do Futuro convida o professor Alfredo Homma, da Embrapa Oriental, para debater e alertar sobre as questões do extrativismo, bem como colocar soluções com base em ciência e tecnologia para produção de alimentos. A entrevista é mais um episódio da série “10 Minutos no Futuro”, e a temática debatida consta em um artigo publicado pelo professor no livro “As Tecnologias Sustentáveis que Vem dos Trópicos”, a ser lançado no dia 12 de setembro.
Abrindo a entrevista, o diretor de comunicação estratégica do Fórum do Futuro, Fernando Barros, coloca em debate como alguns produtos, que teve como porta de entrada a Amazônia, não fazem sucesso por lá. Ou seja, os produtos originários de lá ganham escala industrial quando são produzidos fora. “Professor, 71% da seiva de seringa produzida pelo Brasil vem da Bahia e de São Paulo, e 80% da pupunha vem de Santa Catarina. E o cacau – que entrou no Brasil pela Amazônia – hoje sai principalmente da Bahia. Como explica isso?”, questiona Barros.
O representante da Embrapa enfatiza que, atualmente, o mundo passa pelo fenômeno da domesticação. “Eu costumo dizer que a primeira maçã que Adão e Eva provaram no paraíso foi uma maçã extrativa, colhida na natureza. Porém, hoje, ninguém está chupando laranja e uva extrativa, nem caçando porco e galinha, porque todas foram domesticadas nesses últimos dez mil anos”, responde o professor.
De acordo com Homma, a partir de 1910 a borracha plantada passou a superar a borracha extrativa no mundo – evento que aconteceu também no Brasil. Atualmente, o Estado de São Paulo produz metade da borracha plantada no país. Só em São Paulo nós temos nove municípios que produzem muito mais borracha do que toda a região norte. Apesar da ênfase dos movimentos sociais em relação à borracha extrativa coletada da floresta, esta não representa nem 0,5% do total de borracha vegetal produzida aqui no país.
Conforme explica o professor, hoje em dia, 90% da madeira produzida no país provêm de plantios, mas apenas 10% está vindo de coleta extrativa. “Então existe hoje um certo mito ainda com relação a essa nova bioeconomia que está sendo proposta baseado na coleta de produtos das florestas. Eu acho que a bioeconomia tem um grande potencial, mas desde que nós plantemos essas espécies que tem um grande mercado como a castanha, como o palmito de pupunha, como o bacuri, assim como outras frutas”, propõe Homma.
Ainda de acordo com o convidado, existem 30 milhões de amazônidas necessitando de renda e emprego para conseguirem atuar favoravelmente na agenda de sustentabilidade, alertando que “precisamos acabar com essa xenofobia botânica”. Ademais, o extrativismo não consegue atender a demanda alimentar global, muito menos o uso sustentável da terra disponível.
Barros coloca que o professor chega com propostas inclinadas em ciência e tecnologia, em um processo de inovação que chegue à sociedade. “A Amazônia pode se transformar num grande celeiro global em produtos naturais”, exalta o diretor do Fórum do Futuro.
Concordando com a afirmação de Barros, o entrevistado acredita ser possível transformar a Amazônia num grande celeiro global. “Acho que essa utopia é plausível, sim. Nós fazemos uma nova agricultura aqui na Amazônia baseada em sua biodiversidade, por exemplo, plantar castanhas, plantar bacurizeiros… Em vez de plantar soja – não tenho nada contra a soja –, mas não podemos ter uma xenofobia botânica como prevalece na Amazônia. A questão depende do nível tecnológico com que essas atividades estão sendo desenvolvidas”.
Já nas considerações finais, Homma revela que “nós já desmatamos 82 milhões de hectares na Amazônia. Dos quais o Estado do Pará, desde 2006, desmatou quase metade dessa quantia. Então, para reduzir os desmatamentos da Amazônia, precisamos intensificar a pecuária, e não ir contra o setor”. É um setor que se caracteriza ainda com baixa produtividade. Acho que é possível reduzirmos a área de pasto pela metade, ao dizer que mediante a melhoria das pastagens e da melhoria do rebanho, dentre um processo que pode levar dez, quinze anos aí. Não vamos acabar com o desmatamento amanhã, ainda vai continuar por um bom tempo. Até que consigamos criar alternativas tecnológicas, econômicas tanto para pequenos, médios, grandes produtores aqui da Amazônia”, conclui.
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