PRÁTICAS ADEQUADAS DE CONTROLE DE PRAGAS E IMPLICAÇÕES NO GLOBAL FOOD SAFETY INICIATIVE

O mercado mundial continua a buscar – e o alimentício se inclui de maneira exemplar – consumidores fidelizados e com suas preferências atendidas. A escolha de marca e produto requer cumprir elementos que cada vez mais refletem muito sobre Segurança e Confiança em todas suas facetas. Sinergia sempre foi alavanca para desenvolvimento, somando talentos da indústria e expertises em ciência dos alimentos para multiplicar bons resultados.


Em termos de Segurança dos Alimentos a GFSI (Global Food Safety Iniciative) representa a somatória de grandes especialistas mundiais, congregando fabricantes, prestadores de serviços essenciais e serviços de alimentação, num alinhamento visando esquemas de melhorias na cadeia alimentar e correlatos. Os players em alimentos e bebidas no Brasil estão em alta!


Mas o que é mesmo essa “onda” GFSI? Inicialmente foi uma resposta da Inglaterra e Bélgica para tratar de sistemas preventivos, buscando evitar repetição de surtos no ano de 2.000 na Europa. Ficou histórica a contaminação Belga de dioxina em ração para frangos e o recolhimento de refrigerantes cola com odor desagradável; nos EUA recall de alimento canino; no Japão leite com toxina; na China com melamina; na Itália com tinta, etc. Ocorreram vários recolhimentos (recall) sérios de produtos.


Melões contaminados por Listeria monocytogenes no Colorado resultaram em 146 pessoas infectadas e 30 óbitos. Na Alemanha um surto de E. coli em brotos de feijão cultivados numa fazenda em Hamburgo deixou a Europa em alerta. No Brasil, a indenização de R$ 420 mil no Rio Grande do Sul pela venda de achocolatado contaminado por produtos de limpeza, mostrou bem a relevância do assunto e a abertura de jurisprudência com altas indenizações. Contaminações por insetos em alimentos de food service é recorrente.


Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), as perdas no processo produtivo de alimentos causadas por insetos no Brasil chegam a 20%. A média mundial chega a 10%. Existem vários pontos críticos no processo para início das infestações:


• No campo de plantio: com a uniformização das culturas, tem-se a seleção de pragas específicas para um determinado plantio, muitas vezes com um grau de especialização tão apurado que a população dessas pragas apresenta um aumento significativo. Sem inimigos naturais à altura, se torna difícil e caro o seu controle.


• No equipamento de colheita ou transporte: são pontos onde os resíduos dos grãos coletados que ficaram impregnados podem conter pragas que facilmente serão dispersas para a próxima colheita.


• Na sacaria reutilizada: locais que mantem ótimas condições de abrigo e farto alimento residual para a instalação das pragas. Durante o transporte, tem-se a disseminação das mesmas.


• Nos armazéns: dependendo do grão ou produto armazenado, pode ocorrer a infestação de diversas pragas em um único ponto, ocasionando dificuldades adicionais para o controle.


• Em periferias para beneficiamento: locais onde a importação de pragas provenientes das sacarias e dos armazéns torna o beneficiamento custoso, onde fragmentos de insetos podem ficar adicionados ao produto.


• Em caminhões contaminados: não ocorrendo um tratamento adequado e higienização frequente nos veículos de transporte, a contaminação e a consequente dispersão das pragas para outros pontos se torna praticamente inevitável.


• Nos mercados para consumidores: dependendo do alimento infectado (grãos, temperos, cereais matinais, rações), é possível adquirir e levar para casa ou empresa ou hospital, ovos contidos dentro do alimento, que posteriormente iniciarão seu ciclo de vida (ovo-larva-pupa- -adulto) em um ambiente até então bem higienizado e principalmente isento de pragas.


Vários importantes grupos varejistas se reuniram com foco de desenvolver melhoria contínua nos planos de gestão de segurança dos alimentos, proporcionando maior confiança no fornecimento de alimentos seguros para os consumidores, em todo mundo.


Tiveram divulgação mais representativa em maio de 2009 com a publicação das normas chamadas FSSC 22.000 (Food Safety System Certification). Tais documentos tinham paridade com a famosa ISO 22.000 aplicada à produção de alimentos e afins. E implicam na correta execução de POPs (procedimentos Operacionais Padronizados) – entre eles os de Controle de Pragas conduzidos adequadamente.


Esse grupo, por afinidades criou o Global Food Safety Initiative – GFSI estabelecendo requisitos convergentes e incrementando processos de melhores práticas de mercado para otimizar e esquematizar a cadeia de produção e comercialização de alimentos. Coordenado pelo CGF (Consumer Goods Forum) agrega representantes europeus de peso, com ênfase em varejo. A origem dos primeiros trabalhos (CIES) deu-se na Bélgica em 1953!


A filosofia é calcada em reduzir riscos ligados à Segurança dos alimentos e desenvolver competências e capacitação com bases internacionais eficazes e consistentes. Otimização dos processos é atingida, inclusive, pela redução de redundâncias aliada a melhores eficiências operacionais. Food Safety não é só vantagem competitiva – é obrigação dos fabricantes – da commodity ao produto postado na mesa do cliente.


O cenário hoje pós-crise EUA/ Europa 2009, tenta ser positivo: retomada do crescimento das economias maduras e a expansão dos mercados emergentes criam uma dinâmica global que propicia um equilíbrio favorável aos negócios da cadeia de valor. Essa revitalização econômico-política no Brasil exige, em contrapartida, do produtor, das indústrias e do varejo, critérios de segurança e qualidade em todas as plataformas.


Produtos em desacordo significam perdas importantes em toda a cadeia. Muitas empresas com boa e madura visão de futuro não só seguem à risca todos os protocolos estabelecidos, como buscam estar à frente das exigências dos clientes quanto à segurança do produto. É engajamento e ação pró- -ativa, com trabalho sério em GMP (Good Manufacturing Practices) e HACCP (Hazard Analysis and Critical Control Point). Segurança do Alimento, real, é Food Safety de verdade, embasado em cultura e comportamento.


Pense Nisso!


José Carlos Giordano
Consultor em Food Safety
JCG Assessoria em Higiene e Qualidade
umbrellagmp@terra.com.br

Revista Higiene Alimentar – Vol.31 – nº 272/273 – Setembro/Outubro de 2017

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