Bares e restaurantes do Recife e Região Metropolitana estão divulgando em suas redes sociais a origem do pescado oferecido nos cardápios
Enquanto a Polícia Federal ainda investiga a origem das manchas de óleo presentes nas praias do Nordeste, responsáveis por provocar um dos maiores desastres ambientais no mar do País, a contaminação e a desinformação sobre a procedência do pescado nordestino se tornou outro elemento de preocupação, sobretudo para os restaurantes locais, que já indicam baixa no consumo.
No dia 29 de outubro, o assunto foi debatido em live no Facebook durante o programa 2+1 #EconomiaDeUmJeitoFácil do Jornal do Commercio, na ocasião, o presidente da Abrasel Pernambuco, André Araújo, e o presidente da Noronha Pescados, Guilherme Blanke, foram convidados para falar sobre a oferta de pescado no mercado do Nordeste após os registros de manchas de óleo em praias.
Durante o programa, ambos foram unânimes em afirmar que a desinformação é um dos grandes problemas ocasionados pelo desastre. Blanke avaliou que, por uma série de fatores de ordem natural, o Nordeste fica numa região muito pobre de produção pesqueira, o que faz em torno de 90% do peixe produzido no Brasil ser oriundo de outras regiões.
De acordo com ele, isso faz com que não haja riscos para as espécies mais consumidas no Brasil, como o salmão que vem do Chile ou Alasca, o bacalhau da Noruega ou Alasca, tem também a merluza que vem da Argentina, o panga do Vietnã e a polaca que também tem origem no Alasca – e da Rússia com processamento na China.
Também citou a segurança das espécies oriundas da aquicultura no País e que são mais populares, como o camarão de cultivo e a tilápia. “Então, se pegar todas essas espécies já tem praticamente 80% do peixe que é consumido no Brasil. Há também outras espécies que são importadas ou vêm de outras regiões que estão fora da área de incidência do óleo”, destacou.
Para Blanke, a desinformação é o grande problema. “Precisamos ter certeza das espécies que não apresentam riscos”. Conforme ele, ainda não é feito um esclarecimento para a população, mesmo com realizações de medidas necessárias pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), pela Secretaria de Aquicultura e Pesca (SAP), pelo Ibama e outros órgãos governamentais envolvidos diretamente, com foco na pesquisa científica do que de fato pode apresentar algum risco.
Com avanços de notícias sobre a contaminação de óleo no pescado, Blanke revelou a preocupação de alguns restaurantes que já pediram à Noronha informações sobre a procedência das espécies comercializadas. “Abastecemos o pessoal com essas informações e levasse aos consumidores, para que todo mundo tivesse a segurança necessária no consumo do peixe”, falou.
No primeiro momento foram os restaurantes que procuraram a empresa de Blanke, posteriormente ele também passou a receber ligações de consumidores preocupados. E apesar do medo da presença do óleo no pescado consumido, ele afirmou que não foi visto redução grande nas vendas da empresa como um todo.
Conforme ele, a atuação em outras áreas sustentou as vendas da empresa durante o período. “Um consumidor que vai em um restaurante ou supermercado em São Paulo, Minas ou em Brasília, não vai deixar de comprar um salmão, um bacalhau, uma polaca, ou merluza porque ele sabe que aquele produto não vem da região nordestina” exemplificou.
“De uma forma nacional esse problema não está sendo explorado, mas quando você vai para restaurantes da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, existem ainda algumas dúvidas que a gente espera esclarecer. O mais importante é gerar informação para que as pessoas tenham essa segurança”, afirmou Blanke.
Campanha para informação
O presidente da Abrasel Pernambuco também frisa que a desinformação tem prejudicado muito o esclarecimento sobre a situação. “Começamos uma campanha de esclarecimento na qual estamos estimulando o próprio cliente para conversar com o proprietário ou gerente dos restaurantes para saber da procedência do pescado.”
De acordo com Araújo, a Abrasel também está trabalhando intensamente nessa comunicação. “E nós já orientamos também os associados para exporem cartazes com a origem dos peixes, e explicando que a pesca feita no Nordeste é considerada quase um deserto na água para efeito de pesca em grande escala.”
Para ele, “a crise” surgiu junto com a onda de calor no Nordeste, época em que os estabelecimentos da região já estavam com estoques de pescado abastecidos. E acredita que em breve a questão da origem da pesca será esclarecida e as pessoas vão ter consciência do que se consome, porém o dano da contaminação das áreas atingidas pelo óleo é que mais lhe preocupa. “São muitas perguntas que ainda existem em relação ao que aconteceu com nossos estuários, para a gente a partir disso começar a trabalhar com a recuperação”.
Araújo frisou a necessidade de maior exposição dessas informações.“A gente não sabe de que forma essa camada [de óleo] penetrou [nos estuários], e estamos precisando de estudos laboratoriais que vão ser emitidos com certificação através do governo, e uma forma geral para a partir disso, vemos o comportamento de como agir daqui pra frente.”
Ele diz que é possível sentir o esforço realizado no combate a situação pela sociedade civil, empresas, indústrias, distribuidores e até dos próprios voluntários, porém não sente o mesmo retorno dos governantes. “Apesar de a gente ver a presença da Marinha, do Ibama, outros órgãos etc, mas não temos o sentimento. Acho que o envolvimento da população está tão grande que a há um descompasso, essa gangorra está um pouco desequilibrada e é isso que a gente quer: mais competência na comunicação por parte dos governos para realmente dividir esse fardo.”
Fonte: Seafood Brasil
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