O Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, é um marco da resistência do povo negro e quilombola brasileiro, e de sua cultura e ancestralidade e, assim como as histórias, as receitas remontam a origem das comunidades e suas manifestações culturais. Filha de Seu Cornélio José da Silva e Dona Julita, Rosiele Conceição, 35 anos, experimentou pela primeira vez a Sola quando ainda era criança, na comunidade quilombola Sobara, em Araruama, no Rio de Janeiro. A receita, que faz parte da culinária local, é uma das comidas típicas que integram o livro digital “Receitas e Histórias das Colônias de Pescadores e Comunidades Quilombolas do Norte Fluminense e Sul Capixaba”, publicado pela organização social CIEDS (Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável).
Rosiele conta que a Sola começou a ser preparada devido à fartura de plantações de amendoim na região, produzidas por moradores da comunidade, como seus avós e bisavós, que viviam do que plantavam e a farinha estava sempre presente na mesa. Com o avanço da indústria no entorno da comunidade, situada a cerca de 40 km do centro de Araruama, Região dos Lagos do Rio, muitos moradores começaram a trabalhar fora e, por isso, precisaram se afastar da agricultura.
“O livro permite a disseminação dessas receitas ancestrais e ajuda a inspirar outras pessoas e comunidades, evitando assim que as tradições se percam para as gerações futuras. O resgate da culinária local permite também uma alimentação mais segura, com opções mais nutritivas e variadas, além de possibilitar geração de renda e contribuir para a preservação do meio ambiente”, destaca Rosiele.
A comida, preparada com a mandioca extraída da região, leva na receita: massa de farinha, tapioca, amendoim, açúcar e sal. Todos os ingredientes são enrolados na folha de bananeira e, em seguida, a Sola é assada no forno. O prato, que remonta tradições ancestrais da comunidade, é usado principalmente para alimentação da família, no café da manhã e no lanche da tarde mas, quando há sobra na colheita da mandioca, os moradores também vendem a Sola para aumentar a renda das famílias.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem 1,3 milhão de quilombolas em 1,6 mil municípios brasileiros. No estado do Rio de Janeiro, são mais de 20 mil quilombolas, sendo que a capital é a 3ª cidade no estado com mais integrantes. No Espírito Santo, dos 78 municípios do estado, 26 têm população quilombola, totalizando mais de 15 mil pessoas.
“Durante a pandemia, promovemos uma ação de impacto coletivo por meio do Programa Pessoas e Negócios Saudáveis, que entregou comida pronta para famílias locais e, ao mesmo tempo, fortaleceu organizações de base comunitária e pequenos empreendimentos, ambos extremamente afetados. Ofertamos comida num momento em que a fome cresceu no país; comida é direito e também memória. O livro é uma forma de não esquecermos isso”, conta Vandré Brilhante, diretor presidente do CIEDS.
Além de reunir o passo a passo dos preparos, a publicação traz a origem das receitas e as histórias das pessoas e famílias em torno de cada uma delas, uma mistura de aromas e sabores afetivos, autoestima e emoção.
O livro digital está disponível para leitura e download gratuito, acessando o link.
Sobre o CIEDS
O CIEDS – Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável – desenvolve tecnologias sociais que geram mais renda, mais saúde, melhor educação e, acima de tudo, confiança no futuro. Atuamos construindo redes de parceiros estratégicos comprometidos com um Brasil melhor para todos. Com foco em gestão de excelência, em 25 anos de história, foram mais de 600 projetos realizados, 3.900 comunidades atendidas, 2.200.000 beneficiários diretos e mais de 700 parceiros envolvidos. Entre 200 organizações sociais avaliadas, o CIEDS conquistou a primeira posição no ranking Brasil 2023 do thedotgood, e a 48º posição na classificação global, sendo a única organização da América Latina entre as 50 mais relevantes do mundo.
Fonte: Ludus Global flaviaperez@ludus.eco.br