Inicialmente usadas somente com o propósito de proteger os alimentos, as embalagens ganharam importância por desempenharem outras e não menos decisivas funções, como trazer informações sobre as características do produto e sua proteção à degradação por tempo mais longo, a preservação do meio ambiente, a salvaguarda da saúde do consumidor e, sem dúvida, atuando como importante instrumento de marketing, promovendo e atraindo as atenções dos clientes.
Ganharam novas tecnologias, evoluindo muito nas últimas décadas, como no caso das embalagens ativas e inteligentes, as primeiras, potencializando a durabilidade dos alimentos, ao liberarem substâncias antimicrobianas, como o SO2, muito usado na exportação de uvas ou, ainda, contando com absorvedores de umidade ou de gases produzidos durante o amadurecimento de frutas, como o etileno.
As embalagens inteligentes, por sua vez, vêm contribuindo para maior transparência das condições a que o alimento foi submetido durante seu transporte e armazenamento no ponto de venda, possibilitando ao consumidor saber, através de selos que mudam de cor, se houve flutuações de temperatura ou se o alimento está fresco, sendo ainda possível identificar o seu grau de maturação. Esta é a temática abordada, nesta edição, pelo artigo Embalagens ativas e inteligentes: conceitos e aplicações (páginas 24 a 30 ), cujos autores (Odílio B.G. Assis e Douglas de Britto) tecem considerações conceituais e revisam tecnologicamente tais embalagens, cujo diferencial é interferir e gerar alterações no sistema alimento / embalagem / meio ambiente, e muitas das quais já se encontram disponíveis comercialmente.
No contexto evolutivo das embalagens empregadas para alimentos, a diversidade das tecnologias utilizadas foi estendida aos próprios materiais e, embora o plástico responda pela maior parcela do segmento, conta com inovações nas matérias-primas usadas em sua produção, como o plástico obtido do milho, da mandioca, da celulose, entre tantos outras. Outra novidade relativa aos materiais é a substituição da rolha de cortiça pela tampa de alumínio para garrafas de vinho, evitando-se o bouchonné, processo de perecimento da bebida causado por um fungo que pode ser abrigado nas rolhas de cortiça (FISPAL TECNOLOGIA).
Por outro lado, as inovações nas embalagens têm sido intensificadas em função dos novos padrões de consumo, tornando-se cada vez mais convenientes ao consumidor que já não tem tempo para escolher ou preparar seus alimentos, contando com frutas já selecionadas e embaladas, ou vegetais minimamente processados e higienizados, em embalagens que conservam sua frescura e qualidade. Aliás, a demanda por produtos fracionados, já embalados, vem contribuindo também para o aumento no consumo das próprias embalagens.
Da mesma forma, o mercado single, que representa 30% da população nos grandes centros urbanos, tem impulsionado a redução do tamanho das embalagens, o que acaba por aumentar o consumo de material. A seção Destaque, desta edição, traz um estudo sobre a influência da embalagem na intenção de compra de alimentos (Influência das embalagens de alimentos convenientes na intenção de compra, Lucas Silveira Tavares e outros, páginas 21 a 26). Agora, se é verdade que há uma concreta tendência de se dispo r de alimentos prontos ou semi-prontos, em embalagens que preservem sua qualidade e tragam facilidade e conveniência ao consumidor, já que representam conforto, há, em contrapartida, preocupação evidente em relação aos impactos ambientais provocados por esses tipos de embalagens, tendo em vista a disponibilidade de recursos dispendidos para sua produção e, ainda, o grande volume de lixo gerado.
É fundamental, portanto, que as pesquisas e inovações orientem-se para essa direção, procurando conciliar a conveniência com a sustentabilidade. É o que já está sendo feito em alguns casos, como o papel para embalagem de bombons que utiliza 52% de fontes renováveis, o que reduz em 60% as emissões de gases causadores do efeito estufa, quando comparada a outros materiais plásticos, segundo a Associação Brasileira de Embalagens (ABRAE).
Outro ponto importante é a reciclagem de embalagens, fundamental para reduzir os problemas ambientais. Neste sentido, dados do Estudo Brasil Pack Trends 2020, do Instituto de Tecnologia de Alimentos, em Campinas – SP, revelam que no Brasil o índice de reciclagem de alumínio está acima de 97%, um dos maiores do mundo, assim como as embalagens PET, cujo índice de reciclagem está abaixo apenas do Japão. Acrescente-se que a partir da Resolução RDC 20/2008, já é possível reutilizar o PET reciclado e descontaminado.
Embora o consumidor ainda não esteja muito atento aos impactos relacionados à produção de embalagens, repita-se, as pesquisas nessa área devem ser direcionadas à proteção dos recursos naturais e à sustentabilidade. Ninguém discute sobre a necessidade de novas embalagens, que atendam as novas exigências de um consumidor cujos hábitos estão mudando rapidamente. Mas, é também indiscutível que tais embalagens satisfaçam os ditames da sustentabilidade e não coloquem em risco o meio ambiente. Somente assim será possível compatibilizar qualidade e segurança dos alimentos com saúde do consumidor e do ambiente.
Sílvia Panetta Nascimento
Revista Higiene Alimentar, Editoria Científica.
Centro de Educação Tecnológica Paula Souza, Fatec Itapetininga, SP.
Revista Higiene Alimentar – Vol. 27 – nº 226/227 – novembro/dezembro de 2013
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