ENTRE A PRODUÇÃO INTENSIVA E A ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL.

É simplesmente assustadora, atualmente, a quantidade de publicações e notícias a respeito da alimentação saudável, sendo repetitivas e cansativas as orientações sobre o que comer, o que evitar, quais os riscos aos quais se está sujeito ao consumir este ou aquele alimento. A verdade nua e crua é que o homem não sobrevive sem o alimento e a escolha deste está cada vez mais difícil, não só pelo preço mas, sobretudo, pelas apreensões que o preocupam, em face da inocuidade e da segurança do mesmo. É inquestionável a evolução da indústria de alimentos: nos últimos anos, foi possível não só aumentar a sua disponibilidade, como também aperfeiçoar os processos de produção, o que garantiu ao consumidor não apenas o acesso aos alimentos básicos (pela redução dos custos e do preço final), mas também por sua diversificação, evolução nutricional, aprimoramento da qualidade. Então, não está tudo bem? Não. Ocorre que para aumentar exponencialmente a produção de alimentos, a indústria foi forçada, por exemplo, a se utilizar de metodologias e ingredientes nem sempre absolutamente saudáveis, como é o caso de certos aditivos químicos ou de produtos empregados para tornar mais rentável a agricultura e a pecuária. Felizmente, essa não é a regra, mas sim a exceção. O fato notório é que essa condição de aumento de produção, conhecida como intensiva, está sendo arguida, hoje, pelos consumidores mais informados, mais preocupados com a sua saúde e a de sua família, mais sensibilizados com o impacto do aumento da produção de alimentos sobre a saúde e o bem-estar dos animais destinados à produção. Além disso, a produção de alimentos, agora, deve ser sustentável e não agredir o meio ambiente, condições que são elogiáveis do ponto de vista da saúde do planeta, mas levam, muitas vezes, ao aumento dos custos de produção e, fatalmente, ao aumento de preços para o consumidor. Essa situação é essencial para os países grandes produtores de alimentos, como é o caso do Brasil, pois segundo dados das Nações Unidas, a demanda global pela produção sustentável de alimentos coloca o país em posição de importância estratégica, com previsão de participação da ordem de 40% no que se refere ao abastecimento de alimentos até o ano de 2050, quando a população global chegará a 9,7 bilhões de habitantes. Afinal, a alimentação não só é importante por ser fundamental do ponto de vista biológico mas, sobretudo, por condicionar o comportamento social, psicológico e econômico do consumidor, que vive em ritmo cada vez mais acelerado e tem seus hábitos alimentares cada vez mais alterados, levando-o à exposição de variados problemas de saúde. Que problemas são esses? Por que surgem tais alterações de saúde? Qual sua relação com a ingestão de alimentos? E, mais importante de tudo: poderiam ser evitados? A ingestão de alimentos é que torna sustentável a vida para o homem, porém ela pode ser prejudicial sob duas condições: 1 – quando os alimentos são contaminados por agentes microbianos, químicos ou físicos, e 2 – quando apresentam em sua composição agentes inseridos durante a fabricação e que, eventualmente, podem agredir a saúde do consumidor, de forma mais ou menos grave. Enquanto os programas de controle da qualidade higiênica e sanitária podem resolver os problemas relacionados ao primeiro grupo, somente rigorosos programas de controle tecnológico, aliados ao vasto conhecimento dos agravos à saúde provocados por substâncias colocadas em excesso nos alimentos (ou que não deveriam ser colocadas), é que resolverão aqueles classificados no segundo grupo. Como se conclui facilmente, é mais objetivo encontrarem-se soluções para as questões do primeiro grupo, uma vez que neste caso tem-se à mão variados programas de controle para garantir a segurança dos alimentos, ao passo que as questões do segundo grupo advêm da existência de substâncias colocadas intencionalmente nos alimentos, ou seja, foram acrescentadas como ingredientes e fazem parte intrínseca do mesmo. A contaminação de um produto cárneo por uma bactéria patogênica exemplifica os problemas estudados no primeiro grupo, enquanto o sal ou o açúcar colocados em excesso ou, ainda, o nitrito de sódio, são exemplos de questões elencadas no segundo. Para a produção intensiva de alimentos, em grande escala, a indústria precisa contar, atualmente, com metodologias e processos que permitam alcançar elevado rendimento, possibilitando grande disponibilidade de produtos. É preciso contar com metodologias que abreviem ao máximo o tempo para a produção e somente se atingirá esta meta com o acréscimo de substâncias aos alimentos, com diversificadas finalidades, desde o alongamento de sua conservação, até as propriedades que os tornam agradáveis aos consumidores, como seu aspecto, sua textura, sua cor, seu aroma, seu gosto, etc. Ora, tais características são alcançadas, em grande parte, pela adição de aditivos químicos, cuja adição é, de um lado, positiva aos alimentos, pelos benefícios que lhes trazem, porém especialmente negativa pelos riscos que, eventualmente, podem oferecer à saúde dos consumidores. Como tornar esse risco controlável? Pela rigorosa fiscalização dos limites em que tais aditivos estão sendo utilizados. Em decorrência das metodologias praticadas e dos ingredientes acrescidos, alguns de caráter eminentemente químico, os alimentos industrializados têm sido responsabilizados pelo aparecimento de inúmeras alterações de saúde dos consumidores, a começar pela mudança do hábito alimentar, ao substituir os alimentos naturais pelos processados o que, segundo os nutricionistas, além de levar ao empobrecimento da dieta, contribui para aumentar a susceptibilidade às doenças crônicas, como as cardiovasculares, o diabetes e as neoplasias, as quais estão também associadas aos riscos ambientais e comportamentais, como a alimentação desequilibrada, o aumento das taxas de gorduras no sangue (colesterol e triglicérides), a obesidade, o tabagismo e o sedentarismo. É importante considerar, ainda neste contexto, a existência de manifestações clínicas advindas de hipersensibilidade não específica, apresentada por muitos indivíduos, principalmente crianças, como rinite, urticária e edemas, em consequência à ingestão de alimentos que contenham aditivos químicos. Por outro lado, ingredientes básicos dos alimentos, como o sal e o açúcar, quando ingeridos em excesso, também podem ameaçar a saúde, sendo justificados os programas governamentais que visam, atualmente, reduzir as taxas desses dois ingredientes nos alimentos. Afinal, até vitaminas, se ingeridas em excesso, podem ser maléficas à saúde. Assim, um verdadeiro arsenal de substâncias tem sido utilizado nos alimentos, com diversificadas finalidades e, não obstante adicionadas com o propósito de melhorá-los, podem levar o consumidor a apresentar alterações de saúde. São, por exemplo, os antimicrobianos, agroquímicos, aditivos aminas e promotores de crescimento, utilizados na dieta dos animais de produção, originando produtos com resíduos das mesmas. Tais possibilidades têm levado as autoridades sanitárias a providenciar medidas de defesa ao consumidor, como é o caso da lei que em breve entrará em vigor no Brasil, obrigando as empresas a colocarem no rótulo aviso expresso sobre a presença, no alimento, de substâncias que podem causar alergias. É preciso defender uma sociedade que vive num ritmo cada vez mais acelerado e cujos hábitos alimentares têm variado intensamente, levando ao surgimento dos problemas de saúde. Entende- -se, por tudo isso, a luta do consumidor pela alimentação saudável e a busca pelos alimentos funcionais, orgânicos, naturais, etc. José C. Panetta Editoria Científica da Revista Higiene Alimentar. Revista Higiene Alimentar – Vol.30 – nº 256/257 – Maio/Junho de 2016
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