CRMV-SP lança campanha sobre o futuro da proteína animal

O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) lança nova campanha em comemoração ao Dia do Zootecnista (13/5), com o tema “Alimentando o mundo hoje e amanhã”. A proposta é promover e estimular debates sobre a atuação do zootecnista na busca por alternativas e recursos que possibilitem alcançar a sustentabilidade alimentar no País e em todo o mundo, um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).

Lançada em setembro de 2015, durante a Cúpula de Desenvolvimento Sustentável, na Assembleia Geral da ONU, nos Estados Unidos da América (EUA), a agenda de metas é composta por 17 medidas que devem ser implementadas por todos os países do mundo até 2030, com destaque ao objetivo 2, no qual a campanha do CRMV-SP está baseada: acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição.

De acordo com Luiz Ayrosa, zootecnista e conselheiro do CRMV-SP, os alimentos que chegam à mesa dos consumidores dependem também do trabalho dos profissionais da Zootecnia. “Os zootecnistas atuam na produção animal nas áreas de melhoramento genético, manejo, nutrição, cuidados com o bem-estar animal e gestão ambiental, sempre buscando possibilitar a sustentabilidade alimentar”, afirma.

Para alimentar uma população estimada em 9,6 bilhões até 2050, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) prevê um aumento de 70% na demanda global por produtos pecuários. Alinhado a este crescimento, observa-se um consumidor cada vez mais preocupado com a forma com que os animais são tratados, dando preferência a produtos que atestem a qualidade de vida de bovinos, aves e suínos.

“As pessoas ficam mais satisfeitas ao verem as suas demandas atendidas pela indústria de alimentos que possibilitam o consumo de produtos mais seguros”, explica o zootecnista e professor do Departamento de Zootecnia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp-Jaboticabal), Dr. Mateus José Rodrigues Paranhos da Costa.

Indústria se transforma diante de novas demandas de mercado

Para atender a esse nicho de mercado, a indústria já está transformando os seus sistemas de produção. Sob essa perspectiva, destaca-se o sistema cage free, que consiste na criação de galinhas em espaço aberto, fora das gaiolas. Diferente da produção convencional, em que as aves ficam presas em espaços coletivos que podem alojar muitos animais ao mesmo tempo, neste formato as poedeiras ficam soltas nas granjas, em espaços bem maiores.

“O sistema permite às aves expressar comportamentos naturais e maior socialização entre indivíduos, o que preenche alguns requisitos do seu bem-estar”, afirma o zootecnista José Evandro de Moraes, pesquisador científico do Instituto de Zootecnia da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, vinculada a Secretaria de Agricultura e Abastecimento.

Outra tendência de mercado são os ovos orgânicos. Moraes ressalta que os sistemas de produção de orgânicos seguem alguns pilares específicos, como a proibição de uso de antimicrobianos convencionais como promotores de crescimento. “O papel do zootecnista é fundamental para garantir o bem-estar animal e uma produção de ovos de maior qualidade, seja por meio da formulação e controle de qualidade de dietas, seja pelo manejo ambiental, respeitando as características fisiológicas das aves”, esclarece.

Ivanna Moraes de Oliveira, doutora e pesquisadora na área de Produção Animal e Qualidade de Carne, aposta no aumento do consumo de carnes commodity e no mercado gourmet, este último especialmente devido ao trabalho do zootecnista, que “traz progressos nos sistemas de gado de corte, permitindo a produção de animais mais jovens, carcaças de melhor qualidade, além dos diferenciais determinados pelo tipo de animal utilizado, como a engorda de novilhas para a produção da carne”.

Proteína animal alternativa como fonte de alimento

Como alimento para o futuro, há quem aposte em uma culinária que já está bastante presente na mesa de países africanos e asiáticos: os insetos. Estudos mostram que, além de benefícios nutricionais, essa é uma alternativa sustentável e viável, que pode ser a chave para a erradicação da fome.

O zootecnista Gilberto Schickler, criador das empresas Nutrinsecta, primeira empresa brasileira especializada na produção em massa de insetos comestíveis, e da BombyxBugs, produtora de lagartas vivas de bicho da seda para alimentação animal, explica que insetos tem baixo custo de produção e ciclo de vida. “Atualmente, cerca de 200 espécies de insetos são comestíveis, como moscas, grilos, gafanhotos, bichos da seda e até mesmo as aranhas caranguejeiras. As pesquisas sobre tecnologia e ganho de escala estão em pleno desenvolvimento e este mercado tende a ser cada vez mais disputado”, afirma.

Os insetos poderão ser um alimento de origem animal que contém todos os nutrientes necessários aos seres vivos, inclusive as fibras. “Apesar da quitina não ser digerida, essa fração tem papel fundamental no trânsito gastrointestinal dos alimentos”, conta Schickler, e destaca, contudo, que há alguns insetos comestíveis que podem causar alergias, assim como os frutos do mar, mas isso não é uma regra.

No Brasil, o assunto encontra-se em estágio embrionário. Os poucos produtos de insetos comestíveis são artesanais, para consumo animal e venda local. Entretanto, algumas espécies já são utilizadas há tempos na produção de alimentos industrializados, a exemplo das Cochonilhas, insetos conhecidos por atacarem plantações. Utilizados no desenvolvimento do corante natural carmim, são adicionados a inúmeros produtos, desde iogurtes e sorvetes a sucos, refrigerantes e biscoitos.

Fonte: CRMV-SP

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