Nas últimas décadas várias transformações ocorreram no hábito alimentar das populações, as quais implicaram no desenvolvimento de setores específicos da economia, trazendo vantagens competitivas para as empresas que conseguiram se preparar para atender a essas demandas.
Inicialmente, a maior participação feminina no mercado de trabalho implicou no desenvolvimento do mercado de alimentos prontos ou semi-prontos, que atualmente movimenta R$ 1 bilhão e teve um crescimento na casa dos 20% entre 2009 e 2010, conforme dados do Instituto Brasileiro de Estudos de Concorrência, Consumo e Comércio Internacional (IBRAC). A prática de se alimentar fora de casa foi outra mudança observada. Cada vez mais pessoas adotam esse hábito e os restaurantes tipo self service ou que oferecem “comida a quiilo” foram se multiplicando, principalmente nas grande cidades, onde as distâncias ou o trânsito excessivo dificultam o retorno aos lares no horário das principais refeições.
A possibilidade de consumir uma refeição completa ao invés de lanches ou salgados, também contribuiu para a difusão desse serviço que, atualmente, já representa 1/3 do total de gastos das famílias brasileiras com alimentos, de acordo com a edição 2008/2009 da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mesmo sentido, dados da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA), apontam que entre 2001 e 2010, o mercado food service no Brasil teve uma expansão de 235,1%, atingindo, no último no, um faturamento de R$ 185 bilhões, sendo que estimativas sugerem ainda um grande potencial de crescimento para esse mercado, quando comparado ao dos Estados Unidos e Europa, onde as famílias destinam de 50% a 70%, respectivamente, do total de gastos com alimentos.
Motivados ainda pela praticidade e conveniência, os serviços de delivery tem se expandido e incrementado suas opções a fim de atender a um público significativo, já que mais da metade da população brasileira utiliza esse serviço: trata-se de 59% de usuários que utilizam o serviço de delivery de alimentos, conforme pesquisa realizada pela GS&MD Consultoria. A popularização do acesso à internet facilitou ainda mais essa prática.
Efetivamente, além do atendimento ao cliente, não mais dependente exclusivamente do telefone, a internet permite maior interação na atividade comercial, não apenas nos pedidos que foram incrementados, por exemplo, através de aplicativos, que já permitem pedidos de delivery pelo maior site de relacionamentos do mundo, o Facebook, possibilitando que o consumidor escolha os cardápios, bebidas e ainda compartilhe com os seus contatos da rede, tudo em ação direta com os estabelecimentos. A interação é possível, também, através de newsletter, que abordam os possíveis clientes, com novidades, promoções e informações sobre os produtos oferecidos. As mídias digitais funcionam, inclusive como uma espécies de SAC (serviço de atendimento ao cliente), o que estreita as relações e permite melhor atender às expectativas do consumidor
As vantagens da internet desencadearam, ainda, outra transformação na comercialização de alimentos: o mercado on line de alimentos. Apesar de ainda incipiente, as compras de alimentos pela internet subiram de 20%, em 2009, para 34%, em 2011. No mesmo período, houve uma redução de 5% entre os consumidores que adquiriram alimentos em lojas físicas, conforme dados da pesquisa realizada pelas Consultorias GS&MD e Ebeltof.
O comércio eletrônico está se confirmando como um dos sólidos pilares do varejo no Brasil, o qual já ocupa o quinto lugar no ranking de usuários de internet no mundo, atrás apenas da China, Estados Unidos, Japão e Índia, revelando um crescimento muito representativo. Dados apresentados durante o Seminário “e-commerce – Oportunidades e Tendências para o Mercado Brasileiro”, realizado pela Fecomércio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), revelam que o e- -commerce teve expansão de 2.080% ante 293% do comércio tradicional entre os anos de 2001 e 2009.
Empresas tradicionais na comercialização física de alimentos, já estão aderindo ao comércio virtual, como é o caso do Grupo Pão de Açúcar e Sonda, que já atuam no comércio on line de alimentos em São Paulo, assim como a rede Walmart, com duas bandeiras em operações on line de alimentos (Porto Alegre e Curitiba).
As transações virtuais no Brasil na área de alimentos já são realidade, com perspectivas de franca expansão, impulsionadas também pela prática das compras coletivas, uma importante ferramenta para movimentar o comércio em dias e horários mais fracos, conforme já experimentam alguns estabelecimentos de food service. O ClickOn, primeiro site do segmento de compras coletivas, iniciou suas atividades no País em 2010; menos de um ano e meio depois, o mercado já vendia cerca de R$ 4 milhões. Em novembro/2011 vendeu R$ 42 milhões, faturando em janeiro/2012 R$ 108 milhões”, conforme informações do presidente da empresa, Marcelo Macedo.
Essas transformações nas formas de comercialização de alimentos ocasionarão outras transformações em áreas correlatas, as quais terão também que estar preparadas para atender a um público globalizado e cada vez mais ávido de novidades. Impõe-se, todavia, o alerta para a questão da qualidade, uma vez que a globalização tem mostrado um consumidor cada vez mais exigente, particularmente no que tange às características sanitárias dos alimentos.
Sílvia Panetta Nascimento
Editora cientifica da Revista Higiene Alimentar.
Docente titular da Faculdade de Tecnologia de
Itapetininga, SP, Fundacao Paula Souza.
redacao@higienealimentar.com.br
Revista Higiene Alimentar – Vol. 26 – nº 206/207 – março/abril de 2012
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