Nas última décadas, o aumento no consumo de frutas e hortaliças vem sendo recomendado como base de uma alimentação saudável, principalmente em função dos efeitos protetores desses alimentos contra doenças crônicas não transmissíveis DCNT (obesidade, câncer, diabetes mellitus e doenças cardiovasculares). Em decorrência da comprovação do efeito desses alimentos sobre a saúde, já em 1991, o governo americano lançou o Programa 5 a Day For Better Health, criado pelo National Cancer Institute (NCI), tendo por objetivo aumentar o consumo de frutas e hortaliças pela população. Esse programa foi definido como exemplo para diversos projetos em mais de 40 países, sendo reconhecido como uma importante estratégia de promoção do consumo de FLV (frutas, legumes e verduras).
No Brasil, o Programa 5 ao dia faz parte das recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, o qual, na sua última edição (nov/ 2014) apresenta como base da alimentação os alimentos frescos – como frutas, carnes, legumes e ovos – ou pouco processados – como arroz, feijão e frutas secas, recomendando evitarem-se os alimentos ultraprocessados.
Na ocasião de seu lançamento, o guia teve repercussão discreta na imprensa brasileira, mas despertou atenção nos Estados Unidos, recebendo elogios de renomados especialistas na área de nutrição, conforme noticiado pela Agência Fapesp. Em seu blog Food Politics, Marion Nestle, professora da New York University, afirmou que “as orientações são notáveis pelo fato de serem baseadas em alimentos que os brasileiros de todas as classes sociais comem todos os dias e considerarem as implicações sociais, culturais, econômicas e ambientais das escolhas alimentares”. Michael Pollan, professor da University of California em Berkeley, e autor de livros como Food Rules: An Eater’s Manual (2010) e In Defense of Food: An Eater’s Manifesto (2008), disse que “as novas diretrizes brasileiras são revolucionárias” por serem “organizadas em torno de comida (e refeições!), não em torno de nutrientes”. “Os Estados Unidos precisam seguir o exemplo do Brasil: parar de falar sobre nutrientes e começar a falar sobre comida! Este é um documento de referência”, disse o endocrinologista pediátrico Robert Lustig, professor da University of California em San Francisco, conforme reportado pela revista especializada World Nutrition.
O Brasil publicou seu primeiro Guia Alimentar em 2002, quando foi divulgado o Relatório sobre a Saúde do Mundo da Organização Mundial da Saúde (OMS), relatando a baixa ingestão de frutas e hortaliças como um dos cinco principais fatores de risco para as Doenças Crônicas Não Transmissíveis. Essa primeira versão do Guia brasileiro era destinada a crianças menores de 2 anos, mas no Guia Alimentar de 2006, foram propostas diretrizes alimentares para a população em geral.
Em 2004, durante a Assembléia Mundial de Saúde, da OMS, foi aprovada a Estratégia Global para a Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde – EG, com o apoio de 192 países, entre eles o Brasil. Visando reduzir as mortes e doenças em todo o mundo, uma das principais recomendações da EG é voltada ao consumo de frutas e hortaliças. No Brasil, durante a primeira reunião intersetorial de instalação da EG, foram estabelecidas três grandes prioridades de foco das políticas públicas: a iniciativa ao aumento do consumo de frutas e hortaliças; a regulamentação do marketing dos alimentos infantis e a promoção da alimentação saudável no ambiente escolar.
Em seguida outras ações foram realizadas no âmbito do Conselho Nacional de Segurança Alimentar – CONSEA e, em 2009 realizou-se em Brasília o 5º Congresso Pan-Americano de Incentivo ao Consumo de Frutas e Hortaliças, tendo como tema principal a promoção da saúde, a partir da ênfase na construção de um modelo de consumo de alimentos saudáveis e produzidos de forma sustentável, reunindo diversas áreas e setores cujas ações são determinantes da qualidade de vida e da saúde da população.
Apesar das ações do Governo visando incentivar a alimentação saudável, dados da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL, 2014) mostram que apenas um quarto da população brasileira (24,1%) consome a quantidade de frutas e hortaliças recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 400 g/dia, em cinco ou mais dias da semana. Esse consumo é ainda menor entre os homens, com índice de 19,3% e maior entre as mulheres, com 28,2%.
Visando incentivar especialmente o aumento do consumo de frutas, legumes e verduras foi desenvolvido, como complemento da última edição do Guia Alimentar para a População Brasileira, o livro Alimentos Regionais Brasileiros. A intenção é proporcionar à população o conhecimento das mais variadas espécies de frutas, hortaliças, leguminosas, tubérculos, cereais, ervas, entre outros existentes no país. (A versão digital desse material pode ser acessada no site www.saude.gov.br/promocaodasaude).
Aliado ao conhecimento sobre a diversidade de espécies nativas e seus usos culinários, conforme apresentado no livro em questão, faz-se necessário também facilitar o consumo desses alimentos, os quais, muitas vezes, requerem várias operações pré-consumo, como por exemplo, descascamento, corte, lavagem, sanitização. A menor disponibilidade de tempo para o preparo das refeições, assim como o aumento do número de pessoas que vivem sozinhas (mercado single) também contribuem para o aumento do consumo de alimentos processados em detrimento dos frescos, que requerem maior tempo de preparo.
Nesse contexto, os alimentos minimamente processados mostram-se como uma solução para várias das questões apresentadas, uma vez que, facilitando o consumo, podem favorecer a ingestão de vegetais, contribuindo com a promoção da saúde. Além disso, a produção desses alimentos traz outras vantagens para a sociedade, quando possibilita minimizar o desperdício que já soma proporções absurdas, de 1,3 bilhões de toneladas de alimentos segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, 2015). Os dados do informe O rastro do desperdício de alimentos – impactos nos recursos naturais, da FAO, revelam que 46% desse desperdício ocorre nas etapas de processamento, distribuição e consumo.
Ao proporcionar alimentos já descascados, cortados e/ou fatiados, o processo mínimo promove maior aproveitamento dos alimentos, quando possibilita aproveitar produtos que, em função do tamanho, forma ou defeitos, seria descartado pelo mercado consumidor. Reduz ainda o desperdício quando permite ao consumidor adquirir apenas o que irá consumir, sem ter que comprar uma quantidade pré-estabelecida (1 cabeça de repolho ou 1 abacaxi por exemplo).
Os produtos minimamente processados trazem vantagens também para o produtor, já que agrega valor a sua produção; consequentemente, acaba por gerar maior custo de obtenção, conforme demonstrado no estudo publicado na seção Destaque desta edição, entretanto, apesar do seu custo, para os serviços de alimentação, permite maior racionalização do tempo, menor número de funcionários, menor espaço para armazenamento e para áreas de pré-preparo, além de reduzir o lixo e o consumo de água.
Trata-se, portanto, de um mercado em expansão, com vantagens para toda a cadeia produtiva, mas há ainda muitos desafios a serem vencidos, como a falta de uma regulamentação específica para o segmento; o uso de tecnologias que garantam a segurança e longevidade desses produtos; os gargalos logísticos; a qualificação profissional, entre outros. Será fundamental para o desenvolvimento desse mercado, a ação conjunta de todos os envolvidos no processo, a fim de facilitar o acesso desses produtos à população, favorecendo a maior ingestão de FLV e, assim, contribuir com a saúde dos brasileiros.
Sílvia Panetta Nascimento
Editoria científica Higiene Alimentar
Faculdade de Tecnologia de Itapetininga
Revista Higiene Alimentar – Vol.29 – nº 244/245 – Maio/Junho de 2015
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Gostei da matéria. Bem informativa.
É de facil entendimento. Valeu as dicas.
Ótimo conteúdo. Parabéns pelo trabalho.