O Brasil passa atualmente, por um período de adversidades, constatado pelo elevado número de desempregados, de 11,1 milhões de pessoas, conforme dados do IBGE (2016). Este fato impacta nos setores produtivos e de serviços, uma vez que com menor renda, haverá também menor consumo. Cria-se, no entanto, novas estratégias para obtenção de renda e muitas dessas pessoas optaram por trabalhar por conta própria. O número de pessoas nessas condições passou de 21,3 milhões, em 2014, para 22,2 milhões, em 2015, uma alta de 4,4% e, considerando-se o primeiro trimestre de 2016, aumento de 6,5% em relação ao primeiro trimestre de 2015.
Entre as atividades “escolhidas” para driblar a crise, a área de alimentação é uma das mais frequentes, em função da facilidade em produzir na própria residência e em ofertar esses alimentos diretamente ao consumidor, por meio do comércio nas ruas ou na própria residência. Além disso, atende a uma necessidade do consumidor no momento atual, que também busca novas alternativas para gastar menos. Aumenta-se desta forma o comércio informal de alimentos, gerando situações de maior risco, uma vez que não há como controlar a produção de tais alimentos. O trabalho “Comida de rua e grandes eventos: boas práticas de manipulação e controle sanitário”, publicado nesta edição faz um levantamento da qualidade de alguns dos alimentos mais frequentemente comercializados nessas condições.
Apresenta-se, assim, um cenário de desafios para o profissional que atua na área de alimentos, por um lado o aumento do comércio informal de alimentos trazendo maior risco à população e de outro a necessidade de disponibilizar o alimento para garantir a boa nutrição dessa mesma população. Neste contexto os profissionais vêm aplicando ferramentas visando conciliar essas duas realidades. Iniciativas para garantir a segurança alimentar (food security) e a segurança do alimento (food safety) são recorrentes nos estudos desenvolvidos pelos pesquisadores do segmento alimentar, muitos deles publicados nesta Revista.
Apesar do elevado número de estudos por parte dos profissionais, bem como do desenvolvimento de políticas públicas por parte dos governos voltadas à alimentação, há ainda muito a ser feito, tanto no Brasil como em outros países, pois ainda existem situações de extrema insegurança alimentar. Segundo a FAO, 800 milhões de pessoas são subnutridas crônicas, sendo 159 milhões crianças menores de 5 anos e mais de 2 milhões apresentam carências de micronutrientes. Por outro lado, 600 milhões de pessoas no mundo são diagnosticadas com obesidade.
Em função dessa realidade, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou no mês de abril resolução que define o período de 2016 a 2025 como a Década de Ação pela Nutrição. O objetivo da Resolução é promover uma ação intensificada para acabar com a fome e erradicar a desnutri- ção em todo o mundo, além de assegurar o acesso universal a dietas mais saudáveis e sustentáveis.
A resolução endossa a Declaração de Roma sobre Nutrição e o Quadro de Ação adotado durante a Segunda Conferência Internacional sobre Nutrição (ICN2), solicitando-se aos governos que estabele- çam metas nacionais de nutrição para 2025 e marcos com base nos indicadores acordados internacionalmente. Ainda responsabiliza os governos por reverter as tendências crescentes em sobrepeso e obesidade e reduzir a carga de doenças não transmissíveis relacionadas com a alimentação em todos os grupos etários. E faz um convite a governos e outras entidades, incluindo organizações internacionais e regionais, sociedade civil, setor privado e academia, a participar ativamente da iniciativa.
Deste modo, nesta Década de Ação pela Nutrição, identificam-se mais desafios para os profissionais da alimentação, que seja, produzir alimentos, em quantidade e qualidade suficientes para promover a saúde das pessoas, utilizando com parcimônia os recursos naturais de modo a possibilitar também o acesso às gerações futuras. Fundamental também, portanto, a gestão dos recursos e redução de desperdícios, ressaltando-se que um trabalho de gestão não é uma exclusividade de momentos difíceis da economia, mas sim ações diárias dos gestores dirigidas à otimização dos recursos disponíveis.
Sílvia Panetta Nascimento
Editoria científica Higiene Alimentar
Faculdade de Tecnologia de Itapetininga
Revista Higiene Alimentar – Vol.30 – nº 254/255 – Março/Abril de 2016
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