Com o objetivo de valorizar o pescado amazônico foi desenvolvido o “caviar” amazônico, a partir das ovas de peixes regionais, em especial do tambaqui. A inovação passou por etapas de mentoria e modelagem do negócio, e agora se prepara para iniciar a produção comercial e avançar no mercado externo. “Vamos explorar a “amazonidade” do produto, destinado principalmente à finalização de pratos de alta gastronomia e restaurantes de culinária oriental”, revela o biólogo César Oishi, CEO da startup Amanayra, responsável pela criação do “caviar” amazônico.
Com investimento da Fox Conn, fabricante de peças para motocicletas na Zona Franca de Manaus (AM), a novidade é resultado do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), política pública que mobiliza para o setor recursos de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) obrigatórios por lei como contrapartida dos benefícios fiscais da Zona Franca.
Além de aumentar a renda dos produtores, a inovação transforma em produto nobre os resíduos orgânicos descartados no ambiente. Cerca de 70 toneladas mensais de resíduos de tambaqui são geradas por frigoríficos e supermercados de Manaus, sem contar o volume das feiras livres. Do total descartado, entre 15% e 20% referem-se a ovas de peixes. “Do pirarucu à piranha, pesquisamos 18 espécies nativas e identificamos as ovas do tambaqui como de maior potencial, devido à escala da piscicultura e rastreabilidade da matéria-prima”, conta Oishi.
Em versões com três cores e sabores, o “caviar” de tambaqui é o único produto feito de ovas de peixe nacional. “A ideia surgiu há três anos em conversas entre amigos, mestres e doutores, após pesquisas sobre a piscicultura da Amazônia”, conta o biólogo. O plano inicial é produzir 100 quilos mensais a partir de janeiro, após obter o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF), necessário à comercialização.
Instalada atualmente na incubadora InBiota Biotech da Amazônia, em Manaus, a startup fatura atualmente com a produção de chips de peixe e snacks proteicos de pirarucu, voltados ao mercado fit e controle de peso, como alternativa às barras doces de proteína. Na visão de Oishi, a oportunidade de inovar e evoluir para o “caviar”, por meio do PPBio, pode inspirar e servir de incentivo a outros empreendedores da Amazônia no desafio de ter visibilidade para acesso a novos recursos financeiros.
Segundo ele, ao agregar valor e diminuir resíduos, o negócio ajuda a conservar a floresta em pé e o peixe nos rios. “O projeto pode trazer mais incentivos à piscicultura amazônica e mudar a mentalidade do consumidor sobre a qualidade e benefícios do peixe produzido em cativeiro, com menor dependência de produtos importados de outros estados”, enfatiza.
PPBio – a agenda ESG, guiada por critérios ambientais, sociais e de governança corporativa, ganha impulso no Polo Industrial de Manaus (PIM), no coração da maior floresta tropical do planeta. Do setor eletroeletrônico aos fabricantes de motocicletas, é crescente o número de empresas que buscam aproximação com startups, incubadoras de inovação, universidades e institutos tecnológicos da região para investimentos em soluções voltadas a reduzir impactos ao meio ambiente e desenvolver as cadeias produtivas da floresta, na perspectiva dos compromissos e metas empresariais de sustentabilidade.
O termômetro desse movimento está nos resultados do PPBio. Atuando desde 2019, com investimento de R$ 36 milhões em 34 projetos já concluídos ou em desenvolvimento até outubro de 2022, o programa tem o papel de promover o encontro entre a oferta e a demanda por investimento em inovação no campo da bioeconomia. Além de viabilizar o repasse desses recursos e contribuir na modelagem de bionegócios para chegada ao mercado, a estratégia possui um diferencial que ganha espaço: o suporte às empresas do PIM em suas estratégias ESG.
“É uma chance para empresas que queiram associar suas ações socioambientais à visibilidade da Amazônia, com contribuição para manter a floresta em pé e uma nova economia no interior na Amazônia”, afirma Paulo Simonetti, líder de captação e relacionamento com o investidor do PPBio.
Ele explica: “ao orientar recursos das indústrias em novos negócios e produtos sustentáveis na Amazônia, fortalecemos a inclusão produtiva de comunidades que muitas vezes estão em situação de vulnerabilidade social e, por isso, podem entrar em atividades ilegais, como garimpo e desmatamento”.
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Fonte: Seafoodbrasil, dez 22