Apesar dos avanços tecnológicos, que permitiram resistência a pragas, doenças e condições climáticas adversas, contribuindo para uma maior oferta de alimentos, ainda prevalecem os desafios de como fortalecer a perspectiva de segurança alimentar mundial, em meio a milhões de pessoas em situação nutricional vulnerável.
O cenário de incerteza com a segurança alimentar – preocupação que consta de um recente Relatório Global divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) – coloca o Brasil como protagonista no combate à fome, por seu potencial agrícola. O país se juntou a outras 35 nações para assinar o compromisso de um Roteiro para a Segurança Alimentar Global, no intuito de agir com urgência e responder às necessidades emergentes de segurança alimentar e nutricional, fornecendo assistência humanitária e apoiando redes de proteção social que possam fortalecer ecossistemas alimentares sustentáveis.
Mas como, a certa altura do desenvolvimento, é possível dar o passo adiante e continuar a escalada na oferta de alimentos? E como aumentar a produção sem incorporar novas áreas à atividade produtiva? Qual o esforço necessário a integrar o processo produtivo para compensar conflitos, eventos climáticos – como secas e enchentes -, pandemias, choques econômicos entre outras adversidades, e afastar a perspectiva sombria da fome já experimentada por muitos?
Madjid Ouali, Diretor da Vaisala para América Latina e Caribe, tem uma resposta pouco óbvia e altamente tecnológica como solução para o problema: a medição industrial. Segundo o executivo da empresa finlandesa, líder global em medições industriais, ambientais e meteorológicas, o processo, secundário à atividade principal, seja no setor agrícola ou na indústria, tem por fim o controle contínuo de parâmetros necessários para melhorar a resiliência da operação, ampliar a eficiência da planta industrial e proteger a continuidade dos negócios.
“Sabemos que o setor de alimentos demanda uma atenção especial em relação à gestão da produção, conferindo à tecnologia de medição papel de destaque em todas as etapas do funil produtivo de uma indústria leve ou pesada, da agricultura, processamento ao varejo. Na agricultura, o monitoramento de dióxido de carbono (CO2), da umidade relativa e da temperatura definem as condições em estufas e instalações agrícolas verticais, assim como dentro de instalações pecuárias, para alcançar um novo nível de produção agrícola primária”, afirma Ouali.
De acordo com o especialista, em estações com menor insolação, o uso do dióxido de carbono em estufas, por exemplo, pode aumentar a produtividade em até 40%. “Sistemas automatizados em estufas, que controlam e ajustam automaticamente a concentração de dióxido de carbono, podem ser equipados com uma sonda e contribuir para o ótimo crescimento das espécies cultivadas”. Ouali explica que com a concentração certa de dióxido de carbono, as plantas podem produzir frutos mais cedo do que o normal e que esse tipo de fertilização, além de não produzir subprodutos tóxicos, também não cria umidade excessiva, resultando em plantas saudáveis e com bom rendimento.
Na indústria de alimentos, por sua vez, tradicionalmente o controle de qualidade do processo e do produto se dá com a coleta manual de amostras para análise laboratorial – um procedimento caro e moroso, que gera um atraso significativo entre a amostragem e a disponibilização do resultado. Com a tecnologia de medição, um produto fora dos padrões aceitáveis provavelmente não percorreria esse processo se um alarme fosse acionado, e isso eliminaria o desperdício ou eventuais problemas junto ao consumidor.
Outro exemplo de eficiência referenciado pelo executivo da Vaisala, é a automação da medição de umidade na secagem de alimentos. “Quando a umidade é removida a um nível seguro, a secagem pode impedir o crescimento e a reprodução microbiana, reduzir as reações bioquímicas induzidas pela umidade e diminuir os custos de embalagem, armazenamento e transporte”, afirma Ouali.
A secagem adequada, segundo ele, também prolongaria a vida útil dos produtos, enquanto a medição exata da umidade ajudaria a alcançar o equilíbrio entre o volume de entrada e o tempo de secagem ideal para minimizar o uso de energia. Uma maneira econômica de melhorar a qualidade e o rendimento dos alimentos seria usar dispositivos de medição precisos para controlar o processo de secagem. “Pudemos observar o aumento da capacidade produtiva de uma empresa de laticínios em 20% apenas com a atualização dos controles do secador, sem aumentar o consumo de energia.”
Essa tecnologia para o controle e o monitoramento, em tempo real, de parâmetros sensíveis – como temperatura, umidade, pressão, fluxo de ar, CO2 – em ambientes que lidam com produtos que precisam preservar qualidades microbiológicas garantiria a preservação adequada dos alimentos, o amadurecimento oportuno de frutas e hortaliças e a variedade sazonal para segurança no armazenamento, na logística e no consumo.
As aplicações vão de sondas inteligentes, transmissores e registradores de umidade a sistemas completos de monitoramento contínuo, e são estratégicas para a melhora da produtividade, conformidade, antecipação de problemas, redução do desperdício, de consumo de água e de custos operacionais, para reduzir riscos associados à atividade produtiva.
Além do monitoramento de tendência de temperatura, umidade e outros parâmetros em tempo real, hoje já existem equipamentos dotados de alertas enviados por SMS, alarmes locais e e-mails, relatórios customizados, todos recursos escaláveis de um para milhares de dispositivos e sensores com registro confiável e redundante, executado em paralelo aos sistemas de controle para validação simplificada.
Essa aferição de variáveis que podem interferir ou mesmo comprometer o processo de produção também seria condição determinante para diminuir a volatilidade do mercado global de alimentos e as ameaças que põem em xeque a segurança alimentar no planeta.
Fonte: Natalia Fontão
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