Atividade considerada essencial, de acordo com o Decreto Presidencial nº 10.282, a cadeia produtiva de alimentos e bebidas está ajustando seu dia a dia às necessidades e cuidados impostos pela pandemia da Covid-19, causada pelo novo coronavírus. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), há mais de 15 milhões de pessoas ocupadas nos estabelecimentos agropecuários brasileiros. No atual cenário, é preciso adicionar novos cuidados às já rígidas rotinas higiênico-sanitárias existentes, caprichar no gerenciamento e também se reinventar no atendimento ao cliente.
O zootecnista Guilherme Minssen, diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), conta que no estado foi afetada a entrega de insumos e houve mudança na agenda de abates dos frigoríficos, bem como em rotas fluviais e rodoviárias da região amazônica. Nos trabalhos de campo no arquipélago Marajoara, ainda está sendo normalizado o envio de ração para o cultivo de pirarucus e aos búfalos da Embrapa Amazônia Oriental, em Salvaterra.
“Para o balanceamento de rações, houve troca por itens disponíveis regionalmente. No Pará, por exemplo, aumentamos o fornecimento de torta de dendê, caroço de açaí e farelos de pupunha e bacaba”, comenta Minssen.
Com clientes em todo o país e no exterior, o zootecnista Pedro Veiga, responsável técnico na área de bovinos de corte em uma multinacional de nutrição animal, tem reforçado o que chama de gerenciamento de estoque, principalmente, em sistemas mais intensivos, nos quais o consumo é maior. “Não estamos estimulando a construção de estoque por medo de falta de insumos, mas uma gestão para caso haja um imprevisto pontual e os produtores estejam preparados”.
Com negócios em avicultura, suinocultura e bovinocultura, em Pernambuco, o médico-veterinário Lula Malta conta que a alta do dólar já vinha afetando o preço dos insumos. Mas, explica, como o Nordeste fica longe das regiões produtoras de grãos, é normal que os produtores mantenham estoque de itens como farelos de milho, soja e demais itens de nutrição. O fechamento das feiras, no entanto, é o que mais preocupa o produtor. Na região, é comum que o consumidor compre suínos vivos e carne fresca nesses locais.
“Houve queda de 40% na venda de suínos e não sabemos até quando será possível segurar a lotação nas baias. Também baixou a venda de bovinos com as feiras interditadas. Muita gente partiu para o consumo do ovo, que aumentou por causa da subida do dólar”, explica.
Cuidados e atendimento remoto
Em relação às precauções contra o novo coronavírus, o Mapa publicou uma série de recomendações em relação a cuidados higiênico-sanitários, que vêm sendo seguidos pelos profissionais que atuam no meio rural, das mais básicas, como a lavagem frequente das mãos com água e sabão, a relacionadas à circulação de operadores de veículos de carga e recomendações para a entrega de materiais.
A Embrapa Aves e Suínos, de Concórdia (SC), formulou duas instruções técnicas para prevenção ao coronavírus com medidas de biosseguridade nas granjas avícolas e suinícolas. Em paralelo, a Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense (UFF) também formulou uma cartilha ilustrada, de fácil compreensão, orientando sobre a desinfecção rotineira de materiais e as medidas de higiene necessárias no campo.
Como parte das medidas mitigadoras da disseminação da doença, da mesma forma que muitos trabalhadores de escritório passaram a atuar em home-office, o uso de ferramentas virtuais vem ocupando espaço das visitas a campo, agora só realizadas pelos profissionais sob estrita necessidade. Minssen promoveu alguns leilões virtuais de bovinos e lembra também o cancelamento de palestras, que deram lugar a videoconferências, webinars (seminários on-line) e lives (apresentações ao vivo em mídias sociais).
Veiga, por sua vez, integra uma equipe com dezenas de profissionais que precisaram se reinventar, ao trocar a assistência técnica presencial pela remota. “Temos usado Skype, WhatsApp, Zoom e Webex para nos comunicarmos com nossos clientes. Dessa forma, conseguimos passar todas as orientações que precisam, visitando-os somente se for necessário um suporte presencial”, explica.
Limpar os pés no tapete com água sanitária e usar máscaras são algumas das novas exigências a quem precisa ingressar nas granjas de Lula Malta. O médico-veterinário acrescenta que está adiando as visitas e viagens, interagindo on-line e participando de reuniões por videoconferência.
Para atenuar o impacto do cancelamento de feiras e eventos, nas quais os produtores tinham acesso às novidades do setor, a saída, segundo Veiga tem sido organizar webinars. Para quem passava a semana viajando, foi uma mudança no estilo de vida. “O isolamento nos permitiu abrir os olhos para usarmos mais essas ferramentas on-line. Ganhamos tempo e o cliente não precisa sair da fazenda”, analisa o zootecnista.
Ele acredita que a rotina dos técnicos mudará após a pandemia, tornando-se mais racional e eficiente com o atendimento remoto. O principal impedimento é a qualidade do acesso à internet em algumas propriedades, entretanto, novas tecnologias estão em teste. “Óculos de realidade virtual possibilitam que vejamos o mesmo que o cliente, como se estivéssemos no local. Entretanto, a conexão precisa estar muito boa e no confinamento, por exemplo, raramente isso acontece”, diz.
Fonte: CFMV
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