Com alertas em rótulos, 78% dos brasileiros reduziriam consumo de refrigerante

A maior parte dos brasileiros (78%) diz que com certeza ou provavelmente reduziria o consumo de refrigerantes e sucos de caixinha se houvesse alertas de excesso de açúcar nos rótulos, mostra pesquisa Datafolha. Para 79% dos entrevistados, preços mais altos de bebidas açucaradas também induziriam à redução do consumo, segundo a pesquisa, que foi contratada pela ONG ACT Promoção da Saúde e entrevistou 2.060 pessoas entre 06 e 14 de agosto deste ano. A Anvisa aprovou recentemente mudanças na rotulagem de alimentos, com indicações de altos teores de açúcar, sódio e gorduras saturadas e o desenho de uma lupa. O modelo se assemelha ao que é defendido pela Opas (Organização Pan-americana de Saúde). A mudança visa ajudar os consumidores a melhorar a alimentação com escolhas mais saudáveis e, dessa forma, auxiliar no combate à obesidade no país, problema que atinge quase 18,9% da população adulta e que voltou a crescer este ano, alcançando o maior índice dos últimos 13 anos. A indústria alimentícia tem se posicionado contra o modelo apresentado pela Anvisa e pressionado a agência para a adoção de rotulagem baseada em semáforos nutricionais. Segundo o setor, os modelos de advertência subestimariam o poder de decisão do consumidor. Em artigo recente na Folha, João Dornellas, presidente-executivo da Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos), defende que o modelo de advertências não traz informações suficientes para auxiliar o consumidor a avaliar e comparar os alimentos de acordo com suas necessidades pessoais e familiares. “O que contribui para uma dieta equilibrada é a informação”, disse. Contudo, pesquisas mostram que alimentos ultraprocessados têm relação direta com ganho de peso. Entre esses alimentos estão refrigerantes, salgadinhos de pacote e alimentos prontos congelados. A Abia também já contestou a própria classificação de alimentos como ultraprocessados por, segundo o presidente da associação, não encontrar “respaldo na ciência e na tecnologia de alimentos”, embora o termo já seja adotado por diversos grupos de pesquisa ao redor do mundo e conste no “Guia Alimentar para a População Brasileira”, do Ministério da Saúde. “Você tem dezenas de nomes para açúcar e o leigo não sabe reconhecer o que é açúcar, porque não está escrito açúcar. Isso é proposital, gera confusão”, diz Paula Johns, diretora-geral da ACT. “Por isso que você ter com clareza se um produto tem excesso de algum nutriente crítico, como açúcar, sódio, gordura, é uma demanda. Todas as pesquisas que já fizemos sobre rótulo demonstram que a grande maioria das pessoas não sabe de fato ler o rótulo”. As respostas obtidas na pesquisa Datafolha de que preços mais altos ajudariam na redução do consumo vai ao encontro de evidências científicas, segundo Johns. Um estudo publicado no ano passado na revista científica Lancet analisou dados de 13 países quanto aos efeitos de impostos sobre doenças crônicas não transmissíveis (como problemas cardiovasculares e diabetes). A pesquisa concluiu que sobretaxar alimentos não saudáveis, bebidas açucaradas e alcoólicas, e tabaco podem resultar em benefícios para a população, especialmente para as pessoas que têm menor renda —que são também as mais afetadas por problemas como a obesidade. Segundo a pesquisa Datafolha, 61% dos brasileiros são a favor de aumentar a tributação sobre bebidas não saudáveis. No Reino Unido, entrou em vigor no ano passado uma taxa sobre bebidas açucaradas com mais de 5 g de açúcar por 100 ml, o que causou movimentação desse setor da indústria para alteração de fórmulas. Em 2018, a Coca-Cola ameaçou deixar o país após redução de benefícios fiscais dos quais goza. O então presidente Michel Temer cedeu à pressão e restituiu o benefício. O presidente Jair Bolsonaro, em julho, aumentou o benefício fiscal para a indústria de refrigerantes. A Receita Federal tem autuado indústria do setor de refrigerantes e outras bebidas açucaradas por, segundo o órgão, sobrevalorizar preços para aumentar o benefício fiscal. Johns diz que, considerando as pesquisas feitas sobre o assunto, como as da Datafolha, a conscientização sobre alimentos não saudáveis tem aumentado. “A aceitação é muito grande para políticas regulatórias que vão modificar o ambiente e ajudar a fazer escolhas melhores. Não dá para colocar só nas costas do indivíduo a questão da escolha melhor quando ele está em um ambiente totalmente desfavorável ou inviável de optar por uma boa alternativa”. Em 17 de outubro, nutricionistas e ONGs estiveram em audiência pública na Câmara dos Deputados, na Comissão de Seguridade Social e Família, para pedir a aprovação de um projeto de lei, apresentado há 12 anos, que proíbe a venda de refrigerantes em escolas de educação básica. A pesquisa encomendada pela ACT mostra que 77% dos brasileiros são contra a venda de bebidas açucaradas em escolas. Procurada pela reportagem, a Abia questiona a forma como o estudo foi construído. “A referida pesquisa assume a existência de alimentos ‘não saudáveis’, enquanto defendemos que a saudabilidade está nas dietas — que podem ser equilibradas ou não —, e não em um alimento isoladamente. Além disso, a forma de construção das questões parece querer direcionar o respondente a concordar com o argumento apresentado”. A associação também diz que as medidas apontadas na pesquisa não possuem “respaldo técnico-científico” e, “com base em experiências internacionais, a implementação de tais restrições não apresenta resultados efetivos nas escolhas do consumidor ou mesmo nos índices de obesidade”. Fonte: Folha de São Paulo
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